sábado, 17 de janeiro de 2004

17 de janeiro de 2004

O fato das cortinas não serem estáticas sempre foi ponto de discórdia, de modo que as rugas sob a luz de velas e as taças de vinho já vazias sempre pareciam distintas quando mudavam os castiçais da sala. Um deles chegou carregando uma bolsa sem forma e as desvantagens de uma palavra. Não fora o fim da poesia, estavam apenas no início e tinham todos, os anseios e as inseguranças. Não havia desespero em cartas de suicídio. No hay banda. There is no band. It is all an illusion. Mudaram o espelho de lugar e reencontraram os lápis e os papéis que tinham perdido. Não fora o fim dos abraços, nem das belas piadas ou destes últimos solares. Aprenderam a agradecer todos os dias pelos beijos que não deveriam ter dado se entorpecendo com uma bebida barata.

Agora sequer precisavam dos pseudônimos femininos e do medo de discar o telefone. Não fora um fim, mas outro recomeço. A chuva pela janela e os cantos orientais, a dança solitária e as cartas do baralho jogadas na cama. Havia um rastro de formiga num antigo móvel de madeira. Ouviram / contaram histórias de infância e desejaram ouvir as primeiras palavras de seus filhos. Estavam dando um tempo na falsa honestidade. Parece patético, mas havia um papo sobre ser e reacender o introspectivo e o eu. Não queriam guardar segredos, deixaram as desculpas pra lá, agarraram os cabelos e estenderam seus sorrisos no varal. Estavam ali pelos abraços mais fortes e por alguns beijos também. Um fusca azul. 17 de janeiro. Nada de águas de março ou semana santa ou época natalina. 17 dias depois do fim do ano, estou pronto.

Tenho que ser mais sereno.

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