sábado, 30 de junho de 2007

07

As palavras antes das imagens e o silêncio antes das palavras.
Tudo misturado num embrulho clandestino.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

A Televisão não levada a sério

De todos os meios de comunicação de massa, a televisão é o que menos consigo levar realmente a sério, afinal sempre a associo com a banalidade ou com o entretenimento barato. Seja no momento de se produzir para o meio em si, seja no momento de se interligar a ele. Toda a constituição qualitativa do sistema soa rasteira, descomprometida e vulgar. São poucos os programas relevantes e poucas as pessoas realmente preocupadas com isso. Os dias se seguem, o foco não muda e o ibope permanece o mesmo. Uma sonolência até constrangedora. Tanto por quem produz, como por quem consome. O aparelho de TV pode ficar ligado horas e horas, mas certamente são poucas, as pessoas que prestam atenção no que acontece diante delas. O meio promove uma espécie de olhar desatencioso, dormente, cansado. Para não dizer pouco crítico, senão indiferente. Também são raras as pessoas que param exclusivamente para se dedicar ao ato de ver TV. Assistem enquanto comem, enquanto conversam, enquanto arrumam a casa, enquanto cortam a unha, qualquer coisa. A partir disso é que me pergunto se esses telespectadores chegam a perceber qualquer diferença entre os recursos estilísticos, usados por parte dos programas. Seja uma transmissão direta, uma entrevista em estúdio ou uma reportagem gravada. Também me pergunto se essa variedade de recursos possui, pragmática e inconscientemente, alguma conseqüência sobre esses mesmos telespectadores. Seja num programa de auditório, num telejornal ou num humorístico. Pensando assim, fica fácil questionar os critérios usados por qualquer estudo semiótico, onde causas e efeitos são interligados, dentro de uma lógica quase aleatória de tão particular. Cansei de todo esse discurso (pseudo)científico barato, genérico e redutor, que não leva em conta nem metade dos mil aspectos que cercam, em todas as instâncias, cada observador dos bilhões de observadores possíveis. Semiótica sequer me parece uma ciência (apesar de se afirmar enquanto tal), mas um ponto de vista – de cima para baixo. Definitivamente acho muito difícil afirmar que uma transmissão direta provoca essa ou aquela reação para quem assiste um telejornal. A maioria não está nem prestando atenção. Tudo soa automatizado.

A imagem em movimento, de fato, seduz invariavelmente os olhares – na sala, num bar, num ônibus. A televisão, entretanto, não consegue tratar a informação sem torná-la material reciclável. As idéias gerais ficam e os detalhes são sucedidos por novos detalhes em poucos segundos. O meio não consegue criar uma situação própria, afinal está presente numa realidade extremamente difusa. Não prende, apenas entretém, faz passar o tempo. O jornal impresso, por sua vez, se utiliza da leitura como um ato de isolamento, assim como o cinema que cria um clima propício para aquelas cem pessoas, numa sala escura. Esses meios possuem uma maneira de colocar o espectador, num universo paralelo, particular. A televisão não. E por mais que os aparelhos fiquem ligados o dia inteiro dentro de uma casa – e em muitas realmente ficam, o ar difuso continua o mesmo. Assistem enquanto comem, enquanto conversam, enquanto arrumam a casa, enquanto cortam a unha, qualquer coisa. Além disso, poucos se preocupam de fato com a temporalidade do que se passa; muitos sequer sabem quando um repórter está falando ao vivo ou não. Nem se interessam. Falo isso do mundo real, das pessoas reais e consequentemente da vasta maioria consumidora. Porque nós, que somos especificamente de comunicação, possuímos outro olhar – até viciado por um lado. De fato a televisão toma uma nova representatividade. Estamos sempre acostumados a analisar e analisar causas, conseqüências, efeitos, estruturas cognitivas, signos e signos e signos tudo relacionado com os meios de comunicação. Os semióticos, em especial. Mas às vezes esquecemos que, querendo ou não, essa é uma discussão muito restrita, muito acadêmica. Apenas nós damos importância a ela. A maioria nem nota. Sequer vivencia esse ou aquele efeito que um semiótico afirma sentirmos todos a partir de determinada causa. E eu sempre me pergunto se não há um pouco de esquizofrenia nisso tudo.

Não esqueçamos as idiossincrasias.

domingo, 24 de junho de 2007

Eventos - Cinema

01
PALESTRAS SOBRE DOCUMENTÁRIO (RECIFE - PE)
(Divulgação + edição)

Para refletir sobre a natureza e a extensão do campo documental, a Pós-Graduação em Estudos Cinematográficos da Universidade Católica de Pernambuco, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco e o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE promovem palestras nos próximos dias 02 e 03 de julho com o professor Dr. Fernão Pessoa Ramos, do Departamento de Cinema da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e o francês Michel Marie, professor Dr. do Departamento de Cinema e Audiovisual da Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris III).

O foco das palestras pode ser resumido dentro da questão: o que é documentário? A pergunta parece anacrônica no contexto do hibridismo de gêneros e linguagens que marca o audiovisual contemporâneo. Talvez, por isso, o tema esteja sendo tão requisitado dentro dos interesses de diversos pesquisadores, aumentando assim, desde os anos 90, em todo o mundo, o número de estudos e publicações nessa área. Mesmo no Brasil, onde até pouco tempo a única obra de referência era o clássico Cineastas e imagens do povo, de Jean-Claude Bernardet, perto de uma dezena de livros sobre documentário já foram publicados desde 2004.

Fernão Ramos fará palestra sobre o tema “O que é documentário? O caso do Direto brasileiro”, no dia 02 de julho (segunda-feira), a partir das 19h, no Cinema da Fundação (Fundaj - Rua Henrique Dias, 609, Derby). Um dos pensadores mais importantes do cinema no Brasil, tendo vários textos publicados a respeito do assunto, Ramos irá abordar como o documentário vem sendo estudado hoje e o impacto dos cinemas diretos no documentarismo brasileiro. Depois da palestra, o professor lança no Recife os dois volumes do livro organizado por ele, Teoria Contemporânea do Cinema (Senac, 2005), com textos de alguns dos mais importantes teóricos da área traduzidos pela primeira vez em português. O Volume II tem um capítulo dedicado exclusivamente ao documentário com artigos, entre outros, de Bill Nichols, Noël Carroll, Vivian Sobchack, e o próprio Fernão Ramos.

Michel Marie, um dos principais teóricos da história e da estética do cinema mundial, irá abordar as relações entre “Cinema Direto e Nouvelle Vague” – movimento cinematográfico ao qual se vincula como um dos maiores especialistas, no dia 03 de julho (terça-feira), a partir das 19h, na sala Aloísio Magalhães (Fundaj - Rua Henrique Dias, 609, Derby). Para Michel Marie, o cinema documentário de Jean Rouch, etnólogo francês que se tornou cineasta defendendo, entre outras coisas, a diluição das fronteiras entre ficção e realidade, acabou por influenciar de maneira decisiva a modernidade cinematográfica de autores como Jean-Luc Godard, Eric Rhomer, Jacques Rivette, Alain Resnais, e outros, cujos filmes visam certa aspiração documentais.

As palestras são gratuitas e abertas ao público, mas as vagas são limitadas. Para participar é preciso se inscrever pelos e-mails: daniel.medeiros@fundaj.gov.br ou claudiobezerra05@gmail.com

Mais Informações ou pelo telefone (e fax): (0xx81) 21268960

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02
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CINEMA E AUDIOVISUAL + II ENCONTRO DE PRODUTORES E DISTRIBUIDORES (SALVADOR - BA)
(Divulgação + Edição)

Entre os dias 9 e 14 de julho, acontecerá o III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, no Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/n - Campo Grande), com a presença de diretores e acadêmicos de diversos países.

Na oportunidade, serão realizadas mesas redondas e debates, com as participações já confirmadas de Massimo Canevacci (Univeristà La Sapieneza, Roma), Michel Marie (Sorbonne, Paris III), Daniel Diaz Torres (Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de los Baños, Cuba), Afrânio Cattani (USP), Olgária Mattos (USP), Ivana Bentes (URFJ), Maria Teresa Ventura (URFJ), Mimmo Calopresti (cineasta), Fernando Trueba (cineasta) e Tariq Ali (escritor). Também serão projetados filmes inéditos na Bahia, entre eles “Juventude em Marcha” (Pedro Costa ), “Volevo solo vivere”, (Mimmo Calopresti), “Baixio das Bestas” (Cláudio Assis) “Joy soy la Juani” (Bigas Luna), “Santiago” (João Moreira Sales) e “A scanner darkly” (Richard Linklater).

As inscrições podem ser feitas aqui e custam R$ 20,00 inteira e R$ 10,00 meia. Para quem solicitar a meia, será necessário apresentar documentação que comprove a situação do requerente, como estudante. A TV Seminário vai transmitir em tempo real mesas redondas, debates, entrevistas e comentários com tradução simultânea através do site.


PROGRAMAÇÃO
:: 09 de Julho - Segunda-Feira ::
09h00 Abertura
09h30 Palestras - Mesa I - A Narrativa: de Griffth a Godard
13h00 Atividades no Foyer –
15h00 Palestras - Mesa II - Poética, Estética e Política do Filme
18h30 Atividades no Foyer - Sessão de autógrafos -“Por que se mete, porra?” Paulo César Peréio
20h30 Exibição de Filme - Curta "Paralelos" | Longa "La niña de tus ojos [+]"


:: 10 de Julho - Terça-Feira ::
09h30 Palestras - Mesa III - Cinema Político Contemporâneo
13h00 Atividades no Foyer
15h00 Palestras - Mesa IV - Políticas Públicas para o audiovisual na Bahia
18h30 Atividades no Foyer - Sessão de autógrafos - “Enciclopédia Latinoamericana” de Afrânio Catani
20h30 Exibição de Filme - Curta "Vida Maria" | Longa " “Volevo solo vivere [+]"


:: 11 de Julho - Quarta-Feira ::
09h30 Palestras - Mesa V - Perspectivas do cinema da Bahia
13h00 Atividades no Foyer
15h00 Palestras - Mesa VI - Convergência de Mídias digitais
18h30 Atividades no Foyer - Sessão de autógrafos - "Um Gosto de Eternidade" - Orlando Senna
20h30 Exibição de Filme - Curta “E aí, irmão?” | Longa “A scanner darkly [+]


:: 12 de Julho - Quinta-Feira ::
18h30 Atividades no Foyer
20h30 Exibição de Filme - Curta “Yansã” | Longa “Baixio das bestas [+]


:: 13 de Julho - Sexta-Feira ::
18h30 Atividades no Foyer
20h30 Exibição de Filme - Curta “O espeto" | Longa “Yo soy la Juani [+]

:: 14 de Julho - Sábado ::
15h00 Atividades no Foyer
17h00Exibição de Filme - “Juventude em marcha [+]
21h00 Exibição de Filme - Curta “A cidade e o poeta” | Longa “Noel – Poeta da vila [+]

***

O II Encontro de Produtores e Distribuidores acontecerá nos dias 12 e 13 de julho, no Hotel da Bahia (Avenida Sete de Setembro, 1537 - Campo Grande - Salvador), durante o III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual. O evento vai reunir em torno de projetos cinematográficos mais de 50 empresas de 7 países: Argentina, Brasil, Espanha, França, Itália, México e Portugal. Os participantes apresentarão projetos de filmes, obras em fase de finalização ou já finalizadas a produtores e distribuidores, criando assim um ambiente de contato abrangente e diversificado em prol do surgimento de novos negócios audiovisuais.

Presenças confirmadas: Primer Plano Film Group, (Argentina); Alfa Filmes, (Argentina); Europa Filmes, (São Paulo); Pandora Filmes, (São Paulo); Dezenove Sons e Imagens, (São Paulo); Raiz Produções, (São Paulo); Lagoa Cultural e Esportiva (Rio de Janeiro); Filmes do Estação (Rio de Janeiro); Parabólica Brasil, (Pernambuco); Casa de Cinema, (Bahia); Truq, (Bahia); Doc Doma, (Bahia); Araça Azul, (Bahia); Aquelarre Servicios Cinematográficos, (Espanha); Zebra Producciones, (Espanha); In Vitro, (Espanha); Gaumont, (França); TF1 International, (França); Sintra Film, (Itália); Filmexport Group, (Itália); BIM, (Itália); Altavista Films, (México); Alphaville Cinema, (México); Alameda Films, (México).

O evento vai dispor de estrutura que abrange tradução simultânea, e espaços para que produtores e distribuidores convidados façam contatos, apresentem projetos e exponham seus filmes, trailers e portfólios em equipamentos de exibição em vídeo e em terminais conectados à internet. Uma equipe de apoio estará à disposição para assessorar o evento.


PROGRAMAÇÃO
:: 12 de julho - Quinta-feira ::
09h00 – Abertura - Walter Lima - III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual
Apoio à exportação de filmes - André Sturm - Programa Cinema do Brasil
09h30 – 1ª Rodada de apresentação de Distribuidores
10h45 – Coffee break
11h15 – 2ª Rodada de apresentação de Distribuidores
12h30 – Almoço
14h30 – 1ª Rodada de apresentação de Produtores
16h00 – Coffee break
16h30 – 2ª Rodada de apresentação de Produtores

:: 13 de julho - Sexta-feira ::
10h30 – Infra-estrutura de produção - Edina Fujii - Quanta
Distribuição e exibição digital - Cacá Carvalho - Rain Network
10h45 – Coffee break
11h00 – Rodadas de negócios
12h30 – Almoço
14h30 – Rodadas de negócios
16h00 – Coffee break
16h30 – Rodadas de negócios

Mais informações ou pelo telefone: (0xx71) 3283-7020

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03
SEMINÁRIO INTERNACIONAL EM ECONOMIA DA CULTURA (RECIFE – PE)
(Divulgação + edição)

A Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco realizará o Seminário Internacional em Economia da Cultura no período de 16 a 20 de julho de 2007, na sala Calouste Gulbenkian da Fundaj/Casa Forte (Av. 17 de Agosto, 2187 - Casa Forte - 52061-540 - Recife - PE). Numa parceria da Fundação Joaquim Nabuco com Unesco, Ministério da Cultura do Brasil, Instituto Itaú Cultural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural de Pernambuco.

Com quatro mesas compostas por parceiros nacionais e três conferências internacionais planejadas, o seminário discutirá alguns dos temas que envolvem a cultura como elemento estratégico e de desenvolvimento nas esferas governamental, privada e acadêmica no Brasil e no exterior. Este evento será a etapa inicial de uma série de ações da Fundação Joaquim Nabuco neste campo, sendo seguido posteriormente pelo Curso de Pós Graduação em Economia da Cultura, no mês de agosto deste ano, em parceria com a UFRGS.

As inscrições para o seminário podem ser feitas através do e-mail roseanacarrico@gmail.com e pelo telefone 81 30736753 (Ficha de inscrição aqui).

PROGRAMAÇÃO
:: Segunda-feira – 16/07 ::
19h30 - Abertura Oficial - Palestra: A CONVENÇÃO PARA A PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE DAS EXPRESSÕES CULTURAIS DA UNESCO – DESAFIOS E PERSPECTIVAS – Jurema Machado – UNESCO


:: Terça-Feira – 17/07 ::
14h30 – Mesa I – O Poder Público e a Economia da Cultura: A Cultura como propulsora do desenvolvimento nas Políticas Públicas.

Palestras:
+ O consumo cultural das famílias brasileiras – Frederico Silva, IPEA

+ Sugestões para acelerar o cultivo e a difusão da economia da cultura - José Carlos Durand, Grupo Focus

+ Sete teses (equivocadas ou não) sobre o estado e a cultura brasileira – Carlos Alberto Dória, Boucinhas e Campos Auditoria.

Coordenadora da Mesa: Luciana Azevedo, Presidente da FUNDARPE

17h30 – Apresentação do Programa Rumos do Itaú Cultural

18h – Intervalo

19h – Conferência Internacional - O MODELO FRANCÊS DE FINANCIAMENTO DA CULTURA /Jean Galard, Filósofo, Ensaísta e ex-Diretor Cultural do Museu do Louvre.


:: Quarta-Feira – 18/07 ::
14h30 – Mesa II – A Empresa e a Economia da Cultura: A cultura como negócio, leis de incentivo, patrocínio público e privado, ações institucionais, marketing cultural.

Palestras:
+ O papel das instituições privadas no fomento, promoção e difusão das artes e da cultura no Brasil – Eduardo Saron, Itaú Cultural

+ O que eu ganho com isso? Marketing Cultural; mobilização e desenvolvimento sócio-econômico – Liliana Magalhães, Santander Cultural

18h – Intervalo

19h – Conferência Internacional - O CAPITAL DA CULTURA E SUA INCIDÊNCIA NA ECONOMIA E NO DESENVOLVIMENTO/ Otavio Getino, Coordenador Regional do Observatório Mercosul Audiovisual. Diretor de cinema e televisão. Investigador dos meios de e comunicação e cultura. Consultor de organismos internacionais (UNESCO, PNUD, PNUMA).


:: Quinta-Feira – 19/07 ::
14h30 – Mesa III – O Poder Estratégico da Cultura: a cultura em números.

Palestras:
+ A economia do carnaval no Rio de Janeiro- Luis Carlos Prestes Filho, SDE/RJ

+ A economia do audiovisual- Sergio Sá Leitão, BNDES

+ Sistema de informações e indicadores culturais – Cristina Lins, IBGE

+ A importância da produção de dados e da pesquisa para as políticas públicas de cultura – Isaura Botelho, Cebrap

Coordenadora: Heloisa Buarque de Hollanda, UFRJ

18h – Intervalo

19h – Conferência Internacional - POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DOS BENS E SERVIÇOS CULTURAIS/ Françoise Benhamou, Professora da Universidade de Sorbonne-Centro de Economia.


:: Sexta-Feira – 20/07 ::
14h30 – Mesa IV – A Pesquisa da Economia da Cultura.

Palestras:
+ Encantos e desafios da pesquisa da economia da cultura – uma abordagem caleidoscópica – Ana Carla Fonseca, Instituto Pensarte

+ Sobre os estudos e pesquisas em economia da cultura: a institucionalização do campo – Paulo Miguez, UFRB

+ O incentivo fiscal à cultura no Brasil: uma pesquisa na esfera estadual – Maria Amarante Pastor Baracho, Instituto Plano Cultural e FaPP/UEMG

+ A gestão cultural hoje: entre o público e o privado – Fernando Schuler- Secretaria de Defesa Social do RS

Coordenador da Mesa: Gustavo maia Gomes, UFPE

19h – CONVENÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA DA CULTURA


Mais Informações ou pelo telefone: (0xx81) 3073.6678

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Assis Nachtergaele

(Foto: Rodrigo Almeida - Isso não é um dedo [celular])

Tenho a impressão de ter sido o último dos recifenses, a assistir Baixio das Bestas (Brasil, 2007), de Cláudio Assis, afinal de contas, nas últimas semanas, não se fala de outro filme na cidade, senão esse. Não digo nem de maneira mais ampla, pois não chequei em números reais o público total da produção. Nem me interessa fazer esse tipo de checagem, por enquanto. Refiro-me apenas a algumas conversas na universidade, enquanto tomamos algumas cervejas ou durante o almoço (não que deixemos de tomar algumas cervejas durante o almoço também). Mas desde que estreou, tenho escutado todo o tipo de comentário, sessão após sessão – e só isso já é um fato muito interessante, a ser discutido enquanto produção local: de um lado, alguns que odeiam Cláudio Assis como pessoa e gostaram de seu filme, do outro, alguns que odeiam Cláudio Assis como pessoa e não gostaram de nada. Só há uma unanimidade nisso tudo e como não poderia deixar de ser, também compartilho dela. Basicamente minha opinião freqüenta um pouco cada uma das anteriores, mas não posso negar que depois de tanta discussão, apenas acho Baixio das Bestas um filme menor. Na verdade, imagino que um possível ‘making of’ seria uma produção mais interessante que o original em si – e talvez os risos fossem inevitáveis. O roteiro seria bem simples: acompanhar o impacto na equipe técnica de uma temporada de autodestruição, em Nazaré da Mata, regida por Cláudio Assis e retificada por seu fiel escudeiro, Mateus Nachtergaele, durante as gravações de um filme ‘cru e seminal’ (e que fique bem entre aspas essas palavras). O resultado seria tão carregado quanto a produção original – vide o estado do personagem de Caio Blat - ponto de ligação entre o filme que imagino na cabeça e a obra de fato. Alguém apostaria que essa idéia seria ainda mais carregada – eu apostaria que seria ainda mais carregada, afinal o filme não expõe a violência de maneira a criar uma angústia, cena por cena costurada por uma resolução psico-estético-textual – como acontece, por exemplo, em Funny Games, de Michael Haneke ou Irreversível, de Gaspar Noé, mas apenas busca o choque pelo choque com um leve bafo de cachaça. E apesar dos ditos contrários, sequer consegue atingir esse mero objetivo. Inclusive boa parte dos diálogos, compostos basicamente por palavrões, segue essa mesma linha de pensamento barato. Sobra, por fim, um retrato, quase sem talento, do cotidiano atípico de uma realidade do interior do estado. E pelo menos esse último detalhe – excetuando o valor posto sobre ele – está acima de qualquer julgamento. É uma maneira própria de o diretor trabalhar e tecer uma atmosfera necessária. Por isso escrevo sobre os dois filmes: o imaginado e o de fato. Talvez Nicole Kidman e Björk façam o mesmo ao relatarem a experiência com Lars Von Trier. Os paulistas se chocam e adoram. Nós pernambucanos, no máximo, fingimos nos chocar. E somos ótimos nisso, não duvide.

Pra ser bem sincero, poucos saberiam diferenciar dentro da criação do universo tratado em Baixio das Bestas, o que é estritamente ligado às questões da Zona da Mata pernambucana, o que faz parte do ego rançoso do diretor e o que são ironias aleatórias e veladas. Na verdade, se trata de uma seqüência de ranços que se entrelaçam, a fim de constituírem toda sujeira projetada na tela. Os demônios particulares se tornam maiores que a esfera que deviam estar inseridos. Por sinal, já é a terceira vez que vejo Mateus Nachtergaele interpretar a si mesmo: a primeira, foi justamente no Garagem (e para quem é de fora do Recife, talvez seja necessário explicar, resumidamente, que o Garagem é o único bar que fica aberto na cidade depois das três, quatro da manhã: ou seja, todo tipo de gente, voltando de todo tipo de lugar, termina sua busca naqueles ares). Poderia simplesmente mentir e dizer que Garagem era um curta desconhecido e cult de meados da década de 90, mas dessa vez resolvi não brincar. Mas quem se arriscaria a dizer que eu estava mentindo? Apenas quem estava bebendo cerveja naquela noite e presenciou tudo. Ninguém mais. Enfim, voltando ao ponto, a performance de Mateus na frente do bar, se filmada, renderia como teste de elenco do ator, tanto para sua interpretação de si mesmo em A Concepção, de José Eduardo Belmonte como agora no filme em questão. Pois é: tirou a roupa, mostrou o pinto, sentou no colinho, jogou garrafa nas pessoas, agrediu uma mulher. Tudo. Só faltou dar uma tapinha na bunda de alguém. Se eu soubesse que todo aquele desempenho fazia parte da construção do personagem, teria entendido melhor. A questão é que ninguém o chamou de Everardo (pseudônimo usado pelo ator no filme pernambucano). Gritavam repetidamente: Mateus pára, pára, pára. Não parou. O impacto de Baixio das Bestas é uma farsa. Acho que enquanto concretização de projeto, pela megalomania no qual se estruturou a obra (custou R$ 1,5 milhão), é um grande ato porque, dada a situação de financiamento que vivemos, qualquer concretização dessa grandeza merece meia dúzia de palmas, no mínimo. Mas enquanto cinema, cinema, cinema, cinema, cinema acho que as pessoas começam a se contentar com muito pouco. 1,5 milhão de reais vale mais do que isso. E nem falo pelo dinheiro em si.

Baixio das Bestas é como ver Cláudio Assis nu (ou com a calcinha de Dira Paes) e bêbado (e ainda estou agradecendo o fato do diretor não ter chegado a esse ponto do mal gosto). Se bem que sua aparição já no final da película, quando a jovem Auxiliadora está trabalhando no posto de gasolina, me causou a sensação de que sua cria era uma metáfora de si mesmo. Do clima carregado que permanece em qualquer ambiente diante de sua presença. Acho que Cláudio Assis é um pouco de tudo aquilo. Um pouco da orgia, do estupro, da violência, arrogância, sujeira e até mesmo do cinema. Um pouco de tudo e até mesmo do cinema. Assim como o Mateus Nachtergaele também. E talvez isso soe como um elogio dependendo de quem interprete. A maneira rançosa ao qual se estrutura todas as relações é, a meu ver, fundamentalmente ligada a imagem rançosa que o diretor constrói de si mesmo – para além de qualquer região que escolha como cenário de seus filmes. E não me culpem por esse olhar, afinal, ele tem lá seus fundamentos. Boa parte dessa cidade sabe que sim. Não vamos ser hipócritas justamente agora. E pensando dessa maneira, Baixio das Bestas não é simplesmente gratuito, mas reflexivo. Meio zona da mata, meio diretor perturbado. É extremamente autoral, para falar a verdade, ainda que eu não saiba bem quanta responsabilidade caberia a Cláudio Assis nesse conceito de ‘autoral’. Pouco me importa, por enquanto. Muitas histórias são contadas, rodam a cena e termina sendo melhor não acreditar em nada. E pela primeira vez, não desfiz o vínculo da obra diante de seu criador. Poderia desfazer por um momento e analisar separadamente a fotografia impecável de Walter Carvalho, algumas atuações realmente consistentes, como a simplicidade e o silêncio da Mariah Texeira, e até seqüências inteiras muito bem realizadas: tecnicamente o filme se mantém quase inabalável. Quase. Mas não consegui me desfazer do vínculo e voltar a enlaçá-lo ao final. Preferi ficar no laço original, dado pelo diretor em seu próprio mamilo. Argh. E se tratando dele, nada poderia ser mais previsível.