terça-feira, 29 de abril de 2008

home, sweet home

Preciso sair de casa e ir morar sozinho logo, urgente mesmo, antes que eu não consiga mais controlar minha língua, cuspa na cara de todo mundo da minha família e seja expulso com malas jogadas na rua, gritos e tudo que tenho direito. Acho que tem uma bomba H dentro de mim pronta pra explodir. Para vocês terem uma noção do abuso, eu só namorei uma vez na vida, por nem dois meses, daí vocês tiram o quão estou louco em conviver 23 anos com as mesmas pessoas. Minha relação com a minha mãe é ótima pelo telefone e pode se tornar bem melhor com apenas uma visita por semana. De preferência, na hora do almoço.

Acho que vou ali entrar naquela fila dos topa tudo por dinheiro.

domingo, 27 de abril de 2008

Boa Noite

- Oi, sou eu. O que tu vai fazer hoje de noite?

- hmmm... não sei. Eu devia estudar, mas acho que não tô muito disposto.

- Tu não queres vir aqui pra casa ver o caso Isabella no Fantástico, não?

- É uma. Pode ser. É uma pena que não tem o William Bonner, mas acho que vou. Ao menos tem pipoca aí?

- Tem. Traz o refri.

Mostra - Parte 2

Eu vivo aprendendo com a vida: terminei o texto anterior, tomei um banho rápido, peguei um ônibus pra Fundaj, cheguei exatamente as dezenove horas, os ingressos estavam esgotados como ontem, tentei usar a influência da minha credencial diante da gerente do cinema, não colou e não consegui entrar. Mais um capítulo perdedor pro meu álbum de fotografias. Pior que nem me irritei, porque além de não ter lugar realmente e de não me deixarem sentar na escada por questões de segurança, algumas pessoas da produção dos filmes estavam de pé no fundão.

Peguei uma pipoca e voltei pra casa, afinal tirando pelo dia anterior, a pipoca realmente estava bem melhor que os filmes.

Mostra

Acho que o melhor de ontem - além de chegar com os ingressos esgotados, conseguir entrar e entrar de graça - foi perceber algumas reações de um distinto senhor sentado ao meu lado. Primeiro ele reclamou da música irritante e depois do atraso. Em dado momento da espera, olhou o relógio mais uma vez e resmungou que aquilo não era comum na Fundaj. Concordei, lógico. Tenho simpatia ilimitada por velhos ranzinzas: é quase como vislumbrar um pedaço do meu futuro. Pelo tom da conversa com a mulher que o acompanhava, ele - o senhor - frequentava semanalmente aquele espaço e não tinha resquício de noção da chacota que é o Cine PE. Para os que não sabem, vale só lembrar que o atraso é o menor dos problemas. Como de rotina, rolou as apresentações iniciais - aos quais não vou me deter - e, quando os filmes começaram, tudo ficou mais engraçado. O senhor bateu palmas receosas para o primeiro; estalou os dedos e não bateu para o segundo, bateu no mesmo ritmo do resto da sala eufórica no terceiro, bateu de leve, quase alisando os dedos para quarto, fez várias caretas de gosto e desgosto ao término do quinto e foi ao banheiro e nunca mais voltou no meio do último. Claramente ele estranhou o ritual de comportamento da platéia do festival e admito que até hoje, faço graça das palmas, mas também não sou chato ao ponto de não me deixar levar. Aplaudo quando sinto vontade de aplaudir, imito o 'cri cri cri' do grilo, fico em silêncio, choro, faço piada, mando tomar no cu. Parafraseando Baixio das Bestas (rá), o bom do Cine PE é que nele você pode fazer o que quiser.

Pra facilitar a minha vida, a sua, a dele vamos ao resumo da programação da noite: só gostei bastante do filme sobre Miró, dirigido por Wilson Freire. O que me surpreendeu. Achei o documentário apressado, debochado, um tanto brega e fundado num discurso de cosmopolitismo periférico que casa perfeitamente com o ritmo do próprio poeta. Além disso, o filme expõe enquadramentos espertos em cenários visualmente banalizados para nós, recifenses. A Ponte ou o Mercado da Boa Vista, por exemplo. O que mais me chamou a atenção foi a própria maneira de conduzir a obra, porque inicialmente achei que a figura de Miró poderia suplantar tudo, inclusive o diretor. E isso não acontece. Pelo contrário: há um senso de espaço compartilhado para ambos. O que dá uma leveza, espontaneidade e naturalidade ao andamento. O tal alegrismo que ele fala. Se existe essa beleza mais formal na obra - que falha um pouco na edição apenas, também temos tudo que poderíamos previamente esperar e que não poderia deixar de ter. Aí colocamos a poesia corporal do cara, as histórias pesadas, as piadas ótimas, os inventos, as figuras e mesmo as presenças ilustres, Jomard, França, Lucila. O Recife sujo, belo e as mesas de bar. Se a Mostra Pernambuco fosse um bolão seria Miró na cabeça sem perder de vista, Paulo e Daniel. Pois é, os apóstolos. Engraçado que ambos foram traídos justamente pela palavra: o primeiro por usá-la excessivamente através dos cartazes e o segundo por forçar um teor poético poético desnecessário no off. Os outros três, eu prefiro nem comentar. Só acho que A Última Diva vale alguma atenção pelo que a própria diretora falou no começo: o resgate histórico. Ponto. Feito o resgate, tchau.

Só pra terminar esse comentário, não posso esquecer de falar que do meu outro lado, o esquerdo, tinha uma possível jornalista sentada: olhos na tela, mão no lápis, lápis no caderninho. Eu já estava bocejando de tédio, quando seu braço esbarrou no meu e a percebi escrevendo, depois virando página, tudo sem tirar o olho do filme. Juro que aquele modos operandi só me remeteu a Chico Xavier. Uma espécie de psicografia cinematográfica.

Estou oficialmente sem saco algum de escrever sério e centrado, como bom rapaz de óculos que sou, no Dissenso, então provavelmente vou repetir esse post nos comentários e assinar como jurubeba brasil.

sábado, 26 de abril de 2008

Nomes

É engraçado como só chamamos (ou pensamos em) algumas pessoas pelo nome e sobrenome juntos. Quase como se fosse uma coisa só. Estou escrevendo sobre isso só porque algumas pessoas, ultimamente, vêm me chamando de rodrigoalmeida. Acho estranho, mas não me incomodo. E quando tem uma certa ironia enrustida na expressão, gosto de verdade. Lembro que na quinta ou sexta série liguei para a casa de uma menina e perguntei: "Mariana Mesquista, por favor?". A mãe, tia, empregada ou sei lá quem que atendeu o telefone respondeu super grosseira: "Quantas Marianas você acha que tem aqui, meu filho?". Fiquei todo errado, mas esse hábito nunca me abandonou por completo. Vejam na universidade, por exemplo. Tudo bem que tem os professores que chamamos só pelo nome, sobrenome ou apelido carinhoso: Cléééériston, Dacier, Vizeu, Momesso e Tina estão nesse grupo. Entretanto, do outro lado temos os professores ao qual nos acostumamos a juntar nome e sobrenome como se um não fizesse sentido sem o outro. O que seria da Ângela sem o Prysthon, do Paulo sem o Cunha e do Eduardo ou da Isabel sem o Duarte. Não seria a mesma coisa né?

Ainda assim, o melhor nome de professor é José Mário Austreasjnfjksfhdknfmkdnjfgésilo...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Psicodelia pura!

Foi inaugurada a primeira praia psicodélica do mundo em Santa Marta, na Colômbia. Tudo começou com um derramamento acidental de 10 toneladas de óleo na última quarta-feira que, segundo os pescadores da região, vem sendo responsável pela morte de vários animais marinhos. As autoridades colombianas, entretanto, afirmam que o óleo era 'biodegradável' e que não agride a natureza. Desculpa, mas só com muito LSD pra acreditar nessa né?

Cannes

'Muro', de Tião vai passar na Quinzena dos Realizadores! Muito foda isso. Engraçado que semana passada eu estava justamente pensando nesse curta-metragem, que tinha sido contemplado com o Ary Severo em 2004, mas que nunca tinha visto o lançamento, nem nada. Depois saiu 'Eisenstein' e eu achei que o projeto tinha morgado. Mero engano. O nome só foi reduzido e assim, compacto, me soou bem melhor. Enfim... isso é o que menos interessa.

Parabéns pra Tião, bicho. Botou pra fuder geral!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Risada

A televisão brasileira é um eterno programa de humor.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

vamos salvar o planeta, pessoal!!!

"Próximo 3 de maio é dia de desligar o PC

O Shutdown Day, que em 2007 contou com mais de 65 mil participantes, propõe que os usários desliguem seus PCs por 24 horas para salvar a natureza".

Deve fazer um bem enorme ao humor ficar criando essas campanhas non sense. Só pode. Acho que cada ser humano tem o direito de criar a sua própria campanha quero-salvar-o-mundo-também e fazer da própria vida uma piada sem fim. Pensei até na minha, mas claramente sou pouco criativo e ela já deve existir em algum recanto bizarro por aí: pensei em combinar que todos parássemos de respirar por 30 segundos, para diminuir a emissão de gás carbônico na atmosfera. Pra fugir um pouco do clichê, podíamos parar de respirar e cantar We are the World simultaneamente. Pra fugir mais ainda, podíamos parar de respirtar, cantar We are the World e gravar para podermos rever várias vezes no youtube... pronto, já posso ir dormir feliz agora. Acho que vou sonhar com 'terra, fogo, água, vento, coraçããão: pela união de seus poderes, eu sou Capitão Planeta! Vai Planeta!' Como a Globo ainda não se tocou que esse desenho ia bombar total nos dias atuais pseudo-ambientalmente-conscientes? Só digo uma coisa: esse diretor de programação está vacilando demais. Bob Esponja + Capitão Planeta ia tornar as crianças muito mais alucinógenas e alucinadas. Com todo respeito a natureza é claro. Por sinal, não é por nada que Mário - um amigo que faz mestrado em ecologia em Manaus - quer mais que o aquecimento global se exploda e se recusa a escutar os falsos moralismos disparados a cada esquina. Ultimamente, todo mundo é perito em tudo e todo mundo quer soar defensor das causas nobres. Fico só imaginando as palestras e debates sobre a situação do clima no planeta e, ao final, todos saindo em seus carros com ar-condicionado. Parece piada né? HAHAHAHA. Pois saibam, não é. O conforto ainda é a lei de todo esse povo. Que seja.

A nota citada acima saiu no caderno de Informática do JC de hoje.

terça-feira, 22 de abril de 2008

loser way of life

Continuando a minha saga 'sou loser e não desisto nunca' fui ontem em Boa Viagem, aquela simpatia de bairro (sim, é uma ironia), pegar minha credencial para o Cine-PE. Tudo ok - podem acompanhar e colaborar, a partir de domingo, com a cobertura escreva-você-mesmo lá no Dissenso. Depois do olhar da assessora de imprensa 'tem certeza que você é Rodrigo Almeida?', passei no Shopping Recife rapidamente e descobri que apenas uma lanchonete da praça de alimentação antiga tem suco de polpa pra vender. O resto é em lata, refresco nojento-péssimo e a maioria absoluta nem tem essa opção no cardápio. Tomei um suco de acerola. R$ 3 por 300 ml é pra se fuder no país tropical. Tudo bem, tudo bem, dou um desconto porque sempre fico com a pena do universo de quem trabalha 12 horas dentro daquele espaço 'loucura ou morte', mas nem só de pena vive o homem. E, provavelmente, eu menos que os outros homens. Prefiro a compaixão... ou a raiva, o cinismo, a grosseria, o descontentamento, a provocação, o abuso e todos os sinônimos que o quiroga-ponto-net pode encontrar para o signo de áries. Enfim, tomei o meu suco e segui o meu caminho. Aproveitando que já tinha saído de casa, fui ao Cinema Apolo assistir A Marca da Maldade, de Orson Welles. Cheguei lá vinte minutos antes, super feliz com o meu senso de responsabilidade, super feliz que ia ver um filme ótimo, aí entro saltitante e pergunto se já estava vendendo ingresso. A moça, uma segurança charmosa de uniforme, responde:

- Não vai ter sessão hoje não.

- NÃO? SÉRIO? (e o Caps Lock aqui não é à toa)

- Não. A fita partiu no domingo e ontem já não teve e hoje também não vai ter.

- /o\ Poxa... nem saiu no jornal avisando né?

- Saiu não? - perguntou a mulher numa simpatia ímpar (e sim, agora é sério)

- /o\ Acho que não. Pelo menos, eu não vi nada no JC.

Fiquei lá com carinha de cachorro sem dono, olhando os folhetos, cartazes, buscando na mente alguma alternativa e consequentemente sem conseguir pensar em nada. Pra piorar tudo, desde quinta estou sem celular - o que está se mostrando uma experiência ótima de desapego, mas que não ajuda muito quando tudo o que você quer é ligar para algum amigo e pedir uma sugestão ou requisitar companhia. A mulher percebeu minha angústia, até porque fiz questão de não disfarçar o quão estava frustrado, e pegou um papel em suas mãos.

- Mas olha, no Cinema do Parque tem uma sessão que começa agora de 17:30. Deixa eu olhar aqui pro senhor pra ver qual é o filme.

- Eita, é mesmo, olha aí... - comecei a esboçar um sorriso, porque achava que era Piaf e seria ótimo rever no cinema.

- Olha aqui: de 17:30 o filme é "Meu nome não é Johnny".

- ¬¬ Aff... ok, obrigado.

O cara sai de casa pra ver um Orson Welles e recebe recomendação de Meu nome não é Johnny é pra surtar e sair quebrando tudo. Podia até fazer isso, numa linha João Guilherme Estrella, alegando, inclusive, que tinha cheirado cocaína - só pra jogar alguma referência à obra do diretor Mauro Lima e ao personagem do Selton Mello. Ok, entendo que a pobre moça, uma segurança charmosa de uniforme, só estava querendo ajudar. Não fiquei com raiva dela, longe disso, mas é que esse filminho brasileiro foi responsável pela última vez que tive vontade de sair do cinema no meio de uma sessão - antes disso foi há dez anos, aos 13, em Volcano, do Mick Jackson (O_O). Ambas as produções são muito, muito, muito ruins, daquelas que terminam e você acredita piamente que merece seu dinheiro de volta. Nem vou perder meu querido tempo elencando os motivos. Sequer vale a pena. Engoli toda a frustração, lembrei do Tibet, voltei pra casa bem triste, peguei um CDU / Várzea lotado (ao menos fui sentado), enfrentei o corredor-caos-do-caralho-leste-oeste e cheguei em casa todo suado, começando a me sentir meio mal.

Liguei o computador, fiquei pensando qual filme devia assistir pra compensar e 'puft', o computador desliga sozinho e aparece como se o windows tivesse sido desinstalado. Surtei. Sério, eu vi a minha vida passar como um filme (a infâmia é meu pastor e nada me faltará). Tentei umas dez vezes reiniciar até que desisti, sentei no sofá e entrei em depressão. Minha mãe passou pela sala, me fitou com olhos esbugalhados e disse que eu estava anêmico. Todo dia ela diz que eu estou alguma coisa: amarelo, anêmico, magricelo, bêbado e por aí vai. Novamente com o Tibet na cabeça, reuni todas as minhas forças, fui até o computador, desconectei tudo, peguei a CPU nos braços, cantei canções de ninar, limpei, troquei a fralda, desenrolei os fios e religuei tudo. Né que o danado voltou ao normal. Foi tanta carga energética envolvida nesse exorcismo tecnológico que acordei hoje me sentindo mal realmente e não pelo computador. Corpo mole, marcas pelo corpo, febre e pois é... estou oficialmente no grupo dos com 'suspeita de dengue' - o que é uma categoria aparte de doença. Não é dengue, nem é gripe. É só a síndrome de ser loser demais.

o mesmo céu, o mesmo dia (05)

09:00 - Com uma câmera emprestada foda e um fotógrafo simpático o céu pode ser verde...


15:00 - ...azul...


21:00 - ... ou estranho. (e sem tripé)

Conversa com um amigo na Alemanha

Rodrigo diz:
Eu não aguento mais esse caso Isabella...

P. diz:
Imagino. Até EU não aguento mais.

Filosofia do Suicídio


Recomendado para maiores de 16 anos, ok? Pode parecer uma puta falta de sensibilidade, mas não gostei nem um pouco de Cartas de Iwo Jima, apesar de reconhecer uma cena espetacular na obra de Eastwood. Uma cena de 5 minutos dentro dos arrastados 141. Refiro-me ao momento do suicídio coletivo de sete ou oito soldados japoneses, dentro de um túnel cavado no interior de uma montanha. Fiquei impressionado com a crueza e fusão de elementos contrários: lado a lado caminham uma espécie de beleza estético-filosófica da crença e a nossa própria repulsa moral baseada em preceitos do ocidente. Vemos aquele 'horror' se tornar mais 'horror' por conta dos olhos do diretor. Acho que fiquei ainda mais impressionado porque até ali o filme não passava de um hiato. Balela, balela, balela e balela. É como se, repentinamente, o roteiro tivesse dado um estalo, como se um clímax surgisse do nada. Certos da derrota e praticamente sem saída, os soldados preferem tirar a própria vida a serem mortos pelos norte-americanos. O que era iminente. A rendição sequer é considerada. Há uma crença de honra gritante nesse ato, que me lembra não só toda a história do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, mas a noção de coragem desenvolvida em alguns 'animes' e 'mangás'.

O Suicídio não é literal nos desenhos (e às vezes até é), mas a coragem ou uma crença extrema leva os 'heróis' ou mesmo secundários e antagonistas a cometem ações conscientemente suicidas. Vejam Cavaleiros do Zodíaco só para ficarmos no mais óbvio. Na saga das doze casas do santuário, por exemplo, todos os cinco cavaleiros principais morrem por sua Deusa Atena e isso acontece, porque na impossibilidade de vencerem seus inimigos com suas próprias forças, terminam consumando uma morte conjunta: a sua própria e a de seu adversário. É implícito, mas me parece muito próximo ao que eram os kamikazes ou ao que era toda filosofia de vivência e sobrevivência no Japão imperial. O filme versa um pouco sobre esse ponto. O tom é de tristeza, mas acima disso está o heroísmo que não se separa da atitude, como se a morte por um caminho justificado, ou melhor, dentro desse ritual, afinal é um ritual, estivesse vinculada a uma nobreza do corpo que se esvai e das boas consequências que ficam e se prolongam. Isso me chamou muito a atenção. Tanto que vim aqui escrever esse texto em plena uma hora da madrugada e minutos depois da experiência estética.

Voltando aos 5 minutos que interessam no filme, a direção da cena é excepcional. Não há, pela primeira vez ao longo de mais de uma hora, um excesso de receio, drama prévio ou romantismo forçado: o que diferencia esse único momento de todo resto da película. Ainda assim, as amarras não estão completamente soltas e a cargo da trilha sonora se destina o melodrama. O que termina tentando aproximar o suicídio oriental do ocidental, quando eles se manifestam como cargas opostas. Essa é a maior falha de Clint. Nossa noção é diferente, por exemplo, da naturalidade desconcertante do suicídio infantil na primeira cena de Lain, um anime extraordinário destinado para adultos: uma menina sobe uma escada como qualquer outra e de repente se joga do alto de um prédio num beco sujo, cheio de latas de lixo e casais quase transando. Sua voz se mostra serena em off: "eu não preciso mais de um corpo, pois aprendi a viver de outra maneira". Daí a trama se desenrola quando outras garotas passam a receber e-mails da tal menina morta falando da experiência transcorporal - e as mensagens possuem informações-chaves, compartilhadas apenas por quem a mandou e por quem as recebeu. Imaginem a reação. Recomendo total.

A cena de Iwo Jima é bem rápida: o capitão recebe uma carta, comunica aos seus subordinados que precisam morrer honradamente e ressalta que só assim poderão encontrar um lugar no santuário. Poderão, inclusive, se reencontrar por lá. O capitão se despede. Os japoneses estão dispostos em um círculo, o primeiro abre a granada, bate na cabeça e estoura no peito. O segundo grita, abre uma granada, bate na cabeça e estoura no peito. O terceiro grita, abre uma granada, bate na cabeça e estoura no peito. O quarto grita, abre uma granada e estoura no peito. O quinto hesita, abre a granada e estoura no peito. O sexto estoura os miolos com sua arma. O sétimo não consegue executar o ato. O oitavo foge. Os dois últimos criam um outro dilema: o do suicído assistido. Fiquei me perguntando se esse também não seria um conceito ocidental, afinal ambos estavam participando do ritual e não assistindo como convidados. Tudo bem que foram empurrados para guerra, numa escolha muito longe da vontade própria, abandonando suas famílias. Essa, entretanto, já não é a minha discussão. Fiquei me questionando muito mais como o ocidente via essa idéia de lutar até o fim literalmente, sem se render à covardia ou como enxergavam a prática contínua do suicídio. Podemos tirar um pouco pelo que acham hoje: é uma dimensão humana assustadora.

Eu com certeza começaria o filme por essa cena. Daria outro clima inicial não tenho dúvida alguma. Mas se fosse pra pensar nesse sentido, eu tiraria todos os flashbacks melosos, diminuiria drasticamente o romantismo do roteiro - odeio essa novelização da guerra, pra começar - e terminaria por convencer a mim mesmo de que, dirigir Cartas de Iwo Jima, com a premissa de enxergar pelos olhos japoneses o mesmo fato retratado tão bem, por Eastwood, em A Conquista da Honra, não seria, de fato, um trabalho para mim. Não para um ocidental enterrado nas crenças do ocidente como eu. E se Albert Camus nos alertava que decidir se nossa vida merece ser vivida ou não é responder uma questão filosófica fundamental, acredito que a filosofia do suicídio no oriente siga outro caminho e não devemos tentar aproximar moralmente as ações, senão terminaremos distorcendo ambas. Até hoje o Japão é um dos países com o maior índice de suicídio por habitante. Contemporaneamente, é comum que pessoas com a dignidade ferida diante da sociedade, como em casos de corrupção, por exemplo, cometam o ato como única saída de retorno a pureza. Tirar a própria vida é mais nobre que manter uma vida marcada pela vergonha. O Japão moderno industrializado e ocidental ainda é assim. Podemos até tentar entender a lógica, mas acredito que há um sem fim de nuances que caracterizam àquela nação de forma muito distante de nossos padrões e nossas próprias nuances. São detalhes que realmente não conseguimos compreender direito. Fica um hiato.

O Clint Eastwood deveria ter atentado para isso.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

domingo, 20 de abril de 2008

como escrever um conto para um concurso de contos

Mais um concurso de contos. 3000 caracteres, cerca de 50 linhas, 3000 reais para o melhor escrito. Nada mau para um delinqüente que gastaria metade daquele dinheiro com suas noites: desde que decidira compartilhar de suas palavras há alguns meses, aquele jovem autor, de nome comum, ainda não havia encontrado uma recompensa tão boa e sabia sim calcular bem o valor dessas coisas. Era um bounty hunter com os pés no chão. Infelizmente, andava sem idéias e já não conseguia escrever uma dúzia de bobagens, sem peso algum na consciência. Permanecia horas, paralisado entre círculos e caretas, diante de uma mera folha de papel. Hesitava em um caminho e hesitava no seguinte, por mais que tentasse estabelecer uma relação cordial naquele instante. Um café. Dois. Três. Mantinha-se sempre na defensiva. Cada palavra mal usada lhe consumia um pouco. Cada elogio inseguro lhe causava uma dúvida. Sua vasta e criativa obra não saía do lugar.

Tudo lhe parecia muito questionável. Tudo. Particularmente suas idéias. E na falta delas então, brincava de devastar a si mesmo: ironizava seus possíveis personagens, fazia piadas sarcásticas de suas tramas. Brincava de auto-mutilação como um jogo de cartas. Ao final de uma sessão, estava caído, bêbado, cercado de papéis. Acordava péssimo. Um cigarro. Dois. Três. Até possuía vários contos guardados e inacabados, mas nenhum se adequava aos critérios desse concurso. Seus escritos sempre tinham caracteres demais. Naturalmente bobagens demais. Deveria escolher um às cegas e inscrevê-lo também às cegas. Todo o fracasso posterior poderia ser justificado pela aleatoriedade desse ato. Estaria seguro em se defender e algum caridoso até lhe pagaria um vinho. O jovem autor pensava no destino e no futuro só para esconder sua dificuldade de começar. Estava sempre no tempo diferente do seu.

Teria de ser prático: restavam poucos dias para o encerramento das inscrições. Não poderia seguir impulsos, nem cair em inibições literárias, pois terminaria desistindo da seleção – o que já era recorrente. Precisava apenas de uma idéia, um ou outro verso disfarçadamente poético para conquistar a simpatia dos jurados disfarçadamente jurados. Imaginava que fossem três – duas mulheres e um homem. Acreditava na firmeza dos números ímpares. Um café. Dois. Três. Precisaria encontrar um apelo para cada um e enlaçá-los de maneira que todos se sentissem contemplados. Mastigou uma folha de hortelã e uma história não muito criativa, mas de um protagonista carismático surgiu de repente. Riu sozinho de sua desgraça. Não podia levar o projeto adiante: o cinema havia lhe roubado todas as idéias. Aquele jovem autor sequer podia brincar com seus próprios demônios, porque alguém já o havia feito e projetado numa tela.

Os dias passavam e o rapaz de nome comum tentava se inspirar de alguma maneira: abria o jornal, pensava nos concorrentes, assistia novela, conversava com a vizinha, caçava gatos. Nada era bom o bastante. O mundo andava particularmente sem graça justamente porque 3.000 reais balançavam a sua frente. Um cigarro. Dois. Três. No último dia, em meio a uma autocrítica destrutiva, não encontrou outra saída, senão a metalinguagem. De qualquer maneira, sempre brincava consigo mesmo dentro de seus textos. Era uma espécie de desculpa prévia aos leitores por conta daquela palavra mal usada, um modo de contornar aquele elogio inseguro. Escreveria, portanto, um conto inteiro metalingüístico. Ou melhor, um não-conto. Uma espécie de desculpa por toda sua obra inexistente. E talvez pudesse até lançá-la depois disso. Estava inseguro, de fato. Um café. Dois. Três. Um cigarro. Dois. Três. Deveria desistir logo dessa idéia barata de ser escritor ou arriscar de uma vez. O texto precisava, ao menos, de um título esperto: "como escrever um conto para um concurso de contos", decidiu. Agora era só enviar.

ENVIAR.

(Conto inscrito no Concurso de Contos Maximiano Campos em 2007 )

Óbvio que não ganhei nada né? Tudo bem que era uma pegadinha, mas podia rolar um senso de humor, sei lá.

sábado, 19 de abril de 2008

Profissão

- ... mas você trabalha em algum meio de comunicação?

- Sou jornalista independente.

- (risada geral)

Fico de cara

Ligo a televisão e resolvo zappiar um pouco antes de colocar o filme. Na Globo, Jô Soares. Mudo. No SBT, caso Isabella. Mudo. Na Record, CSI. Fico na Record. Já está no final do episódio e em 5 minutos acaba. Até aí tudo bem. O máximo de bizarro foi eu ficar brincando de reconhecer os dubladores em comum do seriado policial e de Cavaleiros do Zodíaco. Nerd pra caralho, mas Shura de Capricórnio era o assassino da vez. Começa, então, um programa chamado 'Fala que eu te escuto' - com uma faixa embaixo escrito 'Recife', ou seja, programa local. Achei estranho, inicialmente, porque eu achava que se tratava de um programa religioso, mas aí começou a passar um super clipe com vários casos diferentes de CSI. Fiquei assistindo sem entender direito até que em dado momento, um dos policiais fala "pessoas mentem, evidências não". Congela a cena e eu pressentindo o pior pensei: 'por favor Deus, que eles não façam relação com o caso Isabella'. Eis que aparece a legenda: "Legista diz no filme: pessoas mentem, evidências não. No caso Isabella esta afirmação é válida?" e um telefone para você, querido telespectador, ligar. Eu fiquei de cara, olhando sem acreditar. Começou então uma espécie de Dossiê ou retrospectiva, com um resumo de todas as matérias já veiculadas sobre o caso até então. A-s-s-u-s-t-a-d-o-r. Depois das imagens, abre para um pastor ao vivo - com um telão atrás onde passava CSI - recebendo as ligações e 'discutindo' o tema. Eu fiquei muito de cara só pensando que o assunto, na verdade, era CSI e Caso Isabella: vamos brincar de peritos, gozar de todo sensacionalismo e nos fingir evangelicamente de críticos da sociedade. Minha gente, imagine a falta de noção desse programa: o pastor chega a dizer que o Brasil tem uma taxa de 93% de crimes não solucionados, muito diferente da 'realidade' engajada de CSI e dos Estados Unidos. Depois ainda apareceu o Roberto cheiro cocaína Cabrini fazendo uma entrevista com a irmã do pai da menina. A mulher estava o bagaço do bagaço do bagaço da laranja. Deu pena. O Cabrini disfarça na maquiagem. Preciso de um DVD com rec urgentemente. Não posso deixar de gravar essas pérolas da madrugada.

Nós vivemos num mundo muito absurdo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Bilheteria

Eu já tinha cantado, dançado e representado, mas nunca tinha ficado na bilheteria de festas alheias por tanto tempo. Foi ótimo - 4 horas de puro prazer, interação e simpatia na entrada do Quintal do Rossi em Olinda. Demorei tanto tempo bebendo cerveja, conversando com quem aparecia e cobrando ingresso que deu pra fazer a linha bilheteiro-publicitário, bilheteiro-prego, bilheteiro-pessimista, bilheteiro-dançarino, bilheteiro-sério, bilheteiro-paquerador, bilheteiro-amigão, bilheteiro-segurança, bilheteiro-cafetão, bilheteiro-contatos-internacionais, bilheteiro-drogadito, bilheteiro-acadêmico, bilheteiro-ambiental, bilheteiro-vendedor-de-tapioca, bilheteiro-sem-troco, bilheteiro-te-devo-um-real, bilheteiro-me-dá-um-cigarro, bilheteiro-não-tenho-isqueiro, bilheteiro-faço-casal-por-5, bilheteiro-volta-aqui-seu-filho-de-uma-puta-que-você-não-pagou -a-porra-do-ingresso.

Aí depois de encarnar todas as personas na bilheteria, voltei ao normal (ou ao normal-bêbado se preferirem) e entrei na festa conhecendo todo mundo. Não aguentei nem quinze minutos é verdade, mas foi genial. Como já diria o Andy Warhol.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Leituras

"Os primeiros textos que impunham silêncio nas bibliotecas não datam senão dos séculos XIII e XIV. É apenas nesse momento que, entre leitores, começam a ser numerosos aqueles que podem ler sem murmurar, sem 'ruminar', sem ler em voz alta para eles mesmos a fim de compreender o texto. Os regulamentos reconhecem esta nova norma e a impõem àqueles que não teriam ainda interiorizado a prática silenciosa da leitura. Pode-se então supor que antes, nas scriptoria monásticas ou nas bibliotecas das primeiras universidades, ouvia-se um rumor, produzido por essas leituras murmuradas, que os latinos chamavam de ruminatio. O silêncio é uma conquista recolocada em questão hoje. O problema se põe todas as vezes que uma prática cultural ganha aqueles que não tenham sido formados, por tradição familiar ou social, a recebê-la nas condições que ela exige. O cinema é bem sintomático dessa visão. Há hoje, nas salas de cinema, muitos espectadores que reagem como se estivessem diante de sua televisão. Eles falam, comunicam-se, comentam, como se a sala fosse um lugar em que o silêncio não se impusesse. Enquanto para outros espectadores, habituados a uma outra maneira de ser, o silêncio é uma condição necessária do prazer cinematográfico".

Roger Chartier
A Aventura do Livro: do leitor ao navegador (1997, p. 119-21)

a mesma sala, o mesmo dia (04)

??:?? - Adoro brincar com as luzes da minha casa


??:?? - Atenção: foco escondido dentro do jarro


??:?? - 11:20 ou 23:20

Queer

- E tu, Rodrigo, o que tinha planejado pra fazer hoje de noite?

- Eu ia pra Católica, lá pro Cineclube Revezes assistir a um filme... e depois ia ter uma discussão sobre cinema queer.

- Queer?

- É... Mas aí marquei com Fábio e resolvi dar uma bolo nele, só pra me vingar de uma mentira feiosa que ele contou pra mim ontem.

- Queer?

- Também... Eu até pensei em ir pro filme, encontrar ele e, depois da sessão, fazer uma baixaria queer.

- (Risos) Todo mundo ia pensar que era uma Performance... queer.

- Podia ser totalmente espontâneo e se o fosse, eu teria que me garantir na provocação, mas acho que ele toparia fazer sabendo e levando a sério. Principalmente agora que ele está se encaminhando na vibe ator...

- Queer?

- (Risos)

terça-feira, 15 de abril de 2008

chuva, pizza e lasanha

Alguém percebeu que domingo o céu desabou sobre o Recife? Foram raios interferindo na luz, um céu escuro como carvão e trovões que faziam tremer as paredes. Parecia um filme do Rolland Emmerich com pássaros voando no sentindo contrário ao das nuvens e tudo. Passados quinze minutos de água, a Avenida Caxangá estava completamente alagada, em especial naquele trecho do viaduto, no cruzamento com a BR. Do nada, surgiu ali um novo rio pra Veneza brasileira. Escoamento zero. É sério, moro por aqui há muito tempo e nunca vi tantos carros quebrados de uma só vez. O melhor foi que os malas de sinal, aqueles rapazes insuportáveis limpadores de vidro arrumaram um novo emprego: guincho humano de carros quebrados. Achei genial ver os dondocas morrendo de medo, mas tendo que pedir ajuda aos malas e pagando com todo prazer por esta ajuda. Quando a chuva começou e eu vi o céu escuro daquela maneira, só fazia me perguntar:

- Por que estou na fila do bompreço em pleno apocalipse?

E lá estava eu, comprando pizza e lasanha.

domingo, 13 de abril de 2008

Repeteco

Quando eu assisti Juno fiquei com a impressão de que a personagem título não passava de uma variação da jovem garota de Meninamá.com. Há uma conexão profunda entre suas personalidades, para além do corpo ninfetinha da Ellen Page. Se em 2005, era um sadista acerto de contas com a pedofilia, no mais recente, a aventura se desenrola em cima do tema da gravidez. Tudo muito fofinho, sarcástico e com um humor negro pesado. Daí, não contente com Meninamá.com, nem com Juno adivinha qual é uma das camisas que a Ellen Page usa na sua personagem em Smart People? (seu filme ainda inédito). O velho gorrinho vermelho de sempre.


sexta-feira, 11 de abril de 2008

Luz

Quando eu era pequeno, bem pequeno mesmo, estava dormindo na cama da minha mãe - provavelmente num desses dias de medo infantil - quando no meio da noite acordei assustado com uma luz muito forte vindo da janela. Hoje em dia não consigo diferenciar essa lembrança de um sonho: por mais que se trate de uma história real, a imagem na minha cabeça com certeza passou por interferências ficcionais ao longo de todos esses anos. Ao ver a luz, sentei na cama e tentei acordar meus pais. Sem sucesso. Demorei alguns meses acreditando que tinha me comunicado por transmissão de pensamento com Deus. Senti-me iluminado, escolhido na linha de todo blá blá blá católico. Passado algum tempo, talvez alguns anos, já não gostava muito de Deus e descobri que a igreja não passava de um lugar sem graça. Foi nessa época que minha personalidade-nerd começou a tomar forma, destruindo toda possibilidade religiosa e eu arrumei novos templos que se substituíam ou complementavam sucessivamente. Acredito que eu estava na fase Contatos Imediatos de Terceiro Grau, quando concluí que, naquele fatídico episódio da luz, não tinha visto Deus coisa alguma, mas uma nave extraterrestre. Algumas crianças, todas meninas óbvio, choraram quando eu contei essa nova versão dos fatos, tomado por uma euforia louca por desistir de Deus e amar a vida alienígena. Passei um bom tempo me achando uma pessoa super especial. Quase o cego que voltou a enxergar por causa de Jesus.

Aos 12/13 anos, minha mãe tinha viajado pra praia e eu estava dormindo novamente na sua cama, quando acordei no meio da noite com a mesma luz forte vindo da janela. Nessa época eu já estava preparado para viagens interestelares, achei que a nave tinha voltado para me buscar e fui destemido em direção ao foco luminoso. Abri a janela e... ahhh... acho que nem vou contar. hahahahahaha. Estou brincando. Abri a janela e a porra da luz não passava de uma lâmpada enorme da casa do vizinho. Foi uma decepção do caralho - até chorei. Eu sempre gosto de contar ou lembrar dessa história como um ótimo exemplo da efemeridade de nossas crenças - e da tendência ao ceticismo extremo, que se torna insuportável e então necessita de uma boa dose de misticismo. Não cabe nos dedos a quantidade de templos que já ergui e destruí durante a minha vida. E não levem 'templos' aqui no literal religioso, ok? Seria uma limitação idiota diante do que estou falando. Sinto-me, hoje, tão resultado dessas mudanças todas, como uma equação sem fim, que se torna outras equações sem fim simultâneas e paradoxais. Nunca o resultado seria um número inteiro. Sequer existe resultado. Engraçado eu ter escolhido me formar justamente num curso onde a discussão sobre crença e a descrença tomam o foco principal em proporções irreais. Mas como poderíamos abrir um jornal todo dia de manhã e não se perguntar: 'e agora, serei místico ou cético?' Eu vivo alternando, dependendo do espírito do dia e do nível de mau gosto das manchetes. Com aquele papel sujo nas mãos, consigo ver deuses, extraterrestres e lâmpadas.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Bizarrozzz

O youtube e o compartilhamento de vídeos através da internet trouxeram consigo a morte da ética - que alguns interpretam, eufóricos, como a total aniquilação da censura. Há, entretanto, uma diferença sutil apesar da irreversibilidade dos fatos. Acho complicada essa assimilação da privacidade não permitida como bem público. Ok, podemos assistir vídeos que nunca teríamos chance de ver em outras épocas e agradeço ao google por isso todos os dias. Por outro lado, objetos banais como o vídeo dos 'pedreiros flagrados mexendo a massa' é engraçado pra caralho, principalmente por causa da música, mas não podemos negar que se trata de uma graça sem ética alguma (ainda assim, graça). E agora o que fazer? Nada. Na internet, para todo cadeado imposto, dez novas chaves-solução são criadas. Há uma anti-censura tão radical que leva consigo tudo, inclusive a ética. Não há mais privacidade, nem indivíduo, tudo perpassa uma noção distorcida de comunitário.

Alguns ainda se perguntam: 'Como se desfazer de uma cópia 'ilegal' na internet?' (ilegal aqui podendo tomar diferentes conotações dependendo de quem se questiona). Eu respondo: É impossível ou excesso de sorte. O vídeo na internet é o ápice da reprodutibilidade técnica: uma cópia na rede são mil cópias, vistas por mil pessoas, em mil lugares diferentes. Há uma multiplicação sem controle. Tirem do youtube e vai ter no google vídeo, tirem do google video e já colocaram no rapidshare, tirem do rapidshare e mais de mil pessoas fizeram downloads e 20 novos links foram acrescentados no youtube, no google videos, no mediafire, no youporn, no pornotube, nos blogs, wordpress...

O melhor, por ora, é não transar no mato, porque o lead dessa história é 'foi trepar no mato e se fudeu'.

Sensacionalismo

Não sei se todos têm essa mesma impressão, mas o 'Caso Isabella' virou um longo episódio de C.S.I. A situação está num nível que em ambientes públicos com televisão, o interesse se mostra semelhante a de dois amigos que discutem, enquanto comem pipoca, o seriado aqui citado. Novos dados, pistas, suposições. Sobram peritos dentro e fora da tela. A mídia também força o sensacionalismo e mostra o quanto pode fazer de sua grade uma trama policial arrojada: todos os dias em todos os meios é mostrado algo como imagens da Isabella no colégio, ou a professora fazendo uma homenagem, a leitura da carta da madrasta, últimas imagens flagradas no supermercado, entrevista no Fantástico com a mãe, advogados daqui, advogados de lá, investigadores, peritos, pedreiros, porteiro, mais peritos, vizinhos, a porra a quatro. Tratando-se de um caso real, a emoção envolvida é naturalmente muito forte; até agressiva. Esse caso se tornou uma espécie de programa 'Linha Direta' em tempo real. Tenho que admitir que o circo foi muito bem criado e agora os espectadores estão na mão, todos querendo saber quem foi o assassino. Fico assustado com essa histeria 'Quem matou Odete Roitman da vida real' e não me excluo dessa curiosidade mórbida (e não mórbida pela solução, afinal a solução é o mínimo que se espera, mas pelo prazer de ficar acompanhando todas as notícias vinculadas). A imprensa se aproveita desse interesse humano pelo horror e se excede - cheguei a ver uma matéria com uma psicóloga ensinando como contar sobre a morte para crianças. O 'Caso Isabella' é tudo que a mídia precisava pra ter duas semanas de matéria fresca como sangue: um caso chocante e misterioso envolvendo uma criança de classe média. Daí insere um suspense, uns suspeitos, investigadores, um drama familiar, impressões digitais e toma sensacionalismo.

Fico pensando quantas crianças morreram no Brasil desde o dia da pobre Isabella e quantas foram noticiadas em metade dos meios que estão focados nesse caso. Quantas morreram aqui em Pernambuco? Quantas em Recife? Bem típico da mídia brasileira ficar brincando de CSI pela televisão, enquanto os espectadores não percebem os problemas bem maiores que lhe cercam. Somos todos muito estúpidos. O povo é muito estúpido.

Por isso, dizem que lá do cemitério São João Batista, ainda podemos escutar, toda noite, a voz do Roberto Marinho repetindo uma mesma frase, através do suposto celular que foi enterrado junto ao seu corpo. A frase é inspiradora: "que comam, brioches".

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Aniversário

Sempre achei aniversário um dia muito chato... e há 23 anos venho pensando nisso. :P

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Jornalistas

Alguém mais aí sabia que hoje era o dia do jornalista, além do rapaz que me enviou um e-mail me felicitando pela data?

Isso está com cara de Dia da Mentira 2 - A Missão.

domingo, 6 de abril de 2008

o mesmo banheiro, o mesmo dia (03)

19:20 - Mijada esperta e o meu reflexo em cada bolha.


19:24 - Pia e o péssimo costume de jogar cinza no ralo.


19:28 - A lâmpada do meu banheiro é uma obra de arte

Hipocrisia


Tem gente que não olha pro próprio umbigo.

Lenda Urbana

Como já está se tornando uma piada recorrente, porque saiu meu nome no jornal, porque as pessoas comentam e a fofoca diária é algo mais que normal (né Carol?), acho que preciso avisar de antemão que não sou rico, nem ganho vários mil reais por mês, nem sou lá pegador geral. Muito longe disso. Eu bem que gostaria de ganhar bastante, beber todos os dias, morar na cobertura de um hotel e comer toda a galera, mas ainda estou na linha sou feio, liso e moro longe.


:)

"... o resto pode sacudir as jóias"

Mick Jagger queria que Shine a Light fosse gravado durante o show dos Stones em Copacabana. Scorsese achou melhor que não. Sem dúvida a mudança do cenário não seria uma mera troca de última hora, mas um elemento de influência permanente sobre todos os outros elementos, da produção aos traços estéticos. Outro show, outro filme. Essa mudança viria acompanhada de um risco maior, com conseqüências maiores para o bem ou mal do resultado final. Tudo podia dar errado, de fato. Na verdade, nem seria muito complicado que tudo desse errado. É bem simples colocar uma pré-produção monstruosa por água abaixo, quando se tem como objeto uma apresentação para um público ainda mais monstruoso. Em especial no Brasil, em especial no Rio de Janeiro. Poderíamos ter algo próximo ao show no Hyde Park (1969) ou até um novo Gimme Shelter (1970) com mortes e tudo - o que seria uma besteira. Provavelmente Scorsese não queria repetir a visualidade do mega-concerto já trabalhada tanto nos Stones – mesmo que o show em si compartilhe de semelhanças com o Bridges to Babylon (1998). De qualquer forma Copacabana ficou martelando a minha cuca. Talvez por ter estado lá e visto tudo bem de perto. Como disse, era um risco maior com conseqüências maiores: coloquei minha mochila nas costas, arrumei reservas de última hora, consegui uma promoção limpeza da varig pré-falência, me hospedei num albergue barato e lotado de gringos pirados em Botafogo e passei uma das melhores semanas da minha vida na cidade maravilhosa. Rock and Roll total. Devia ter colocado It's only Rock'n Roll but I Like It só para não fugir do clichê-mor dos textos sobre os Stones. Mas sim, eu podia ter morrido? Super podia. A minha mãe deve ter tido certeza da minha morte... e olha só, nem morri e foi incrível. É mais fácil estabelecer uma vida, ou melhor, momentos de vida não programados do que um filme não programado e assim sendo, um teatro em Nova York de médio porte com convidados educados, modelos cercando o palco, Bill Clinton, Hillary Clinton e um ou outro fã de verdade é mil vezes mais comportado e manipulável que um milhão de enlouquecidos de todas as partes do Brasil e da América Latina (apesar de que os documentários registros-de-grandes-festivais como Monterey Pop (1968) e Woodstock (1970) claramente também utilizam uma manipulação de imagens para exacerbar a idéia de ‘paz e amor’). Scorsese sabe bem disso e não quis se arriscar. O que é uma pena (com todo respeito).

A possibilidade de Copacabana, entretanto, só me martelou antes e depois de assistir ao filme, não durante. Shine a Light começa muito bem. Não há o riff inicial de ‘Satisfaction’, nem fãs histéricas na porta do backstage, mas a dinâmica da própria organização do show, das discordâncias, da maquinaria, dos ensaios, das definições. E não da maneira burocrática como o faz Gimme Shelter. Há também a organização do documentário sobre o show. Scorsese revela como ele mesmo se estrutura diante daquele evento (em termos musicais a gente já sabe que ele se conecta há muito tempo vide algumas trilhas sonoras). Isso me conquistou na hora e Copacabana ficou para depois. Até porque Scorsese é um miúdo marrento muito foda: todas as intervenções que quebram com a filmagem do show em si são geniais. Essas rupturas são compostas basicamente de pequenos trechos de imagens de arquivo dos Stones: a longevidade é um dos temas principais e o próprio Keith Richards é um PHD vivo. Prefiro não contar cada intervenção, porque enquanto eu estava assistindo ao filme, após cada uma dessa entrevistas antigas eu já ficava esperando a próxima. Sem contar que simplesmente eu adoro ver e ouvir o Martin Scorsese falando. As primeiras cenas mostram ele puto da vida, porque – mesmo tendo tudo sobre o seu absoluto controle, há um detalhe que ele ainda não sabe: a playlist. Mick Jagger está indeciso, faz cera. Scorsese se vira como pode: conta piadas, marca o lugar das câmeras, conversa com a equipe, fica ainda mais irritado. Em alguns momentos, cineasta e músicos trocam algumas palavras e brincadeiras. Passam as horas e Scorsese continua sem saber a playlist: a cena onde ele explica a importância de saber ao menos qual seria a primeira música é sensacional, pois ele explica que poderia modificar o objeto / pessoa / gesto que seria filmado inicialmente e que isso teria uma grande relevância para o conjunto da obra (mesmo que com a quantidade de câmeras à sua disposição, imagino que nenhum ângulo tenha sido perdido). E então começa o show - apresentado por Bill Clinton que levou trinta convidados. O que é bizarro, mas o Keith usa da sua ironia pra melhorar o clima: “esse Clinton está se comportando como Bush hoje”. Os Stones abrem com Jumpin' Jack Flash. Eu acertei: foi a mesma canção que abriram em Copacabana. Caindo no clichê que critiquei inicialmente, ouvir o riff dessa música é de tirar do sério. Fico louco na hora – e sinceramente a platéia estava muito parada em Nova York. Acho que Mick devia ter parafraseado a famosa frase de John Lennon dita numa apresentação dos Beatles com presença da Rainha Mãe e outros nobres: "O pessoal das galerias dá o compasso batendo palmas e a turma das cadeiras caras pode sacudir as jóias". Só que no caso dos Stones e da paráfrase, entretanto, não há galerias, ou melhor, a galeria somos nós. E depois daquela última cena, eu só podia bater palmas mesmo.

Ps.: Senti falta de Paint It Black, Midnight Rambler e Gimme Shelter, mas dou desconto por eles terem tocado As tears goes by - o que é raro e uma novidade dessa última turnê. No rio eles tocaram Midnight Rambler... putz, aquela gaita me mata.

Aniversário

Alguém resolve aí o que eu faço no meu aniversário, se possível organiza tudo e me avisa só na hora de eu dar o ar da minha graça.

Agradecido.

Rodrigo

Ps.: Vai, Lellye, me chama de metido.

sábado, 5 de abril de 2008

Aula Clássica

Uma das aulas clássicas da minha graduação aconteceu na cadeira de Ética e Legislação para Jornalismo, ministrada pelo professor Alfredo Vizeu. Lembro que era começo de semestre e que cheguei quase vinte minutos para acabar a aula, com médio peso na consciência. Cheguei sorrateiro e sentei no fundão. Admito que só queria pegar a chamada - o que é típico de final de curso, afinal ninguém pretende ser reprovado de graça naquele ponto do martírio. Resumindo: essa cadeira funciona, inicialmente, como o tiro final em forma de culpa pela escolha e formação naquela maldita profissão vendida, para, em seguida, ressaltar a possibilidade de cada um como agente de reflexão e transformação do próprio meio (apesar dessa reflexão se mostrar um tanto incompatível com o mercado). É ao mesmo tempo uma disciplina difusora da podridão jornalística diante dos quase-quase jornalistas e uma proposta de outros caminhos e possíveis novas condutas. Trata-se de uma iniciativa interessante para um bando de alunos desacreditados. Logo percebemos o tom de contraste gritante entre o docente e os discentes.

A questão é que à essa altura do campeonato - passados quase 4 anos de universidade - já estávamos saturados por tudo que aconteceu antes, dos vários professores pífios, das ementas inexistentes à falta de estrutura como um todo. Estávamos inclusive acostumados ao meio sujo da comunicação e a descrença pelos tons de Rui Barbosa tomara ares agressivos. Os ideais jornalísticos e todo blá blá blá não passavam de piada velha. Lembro que antes de começar a escrever minha resenha sobre "A Imprensa e o Dever da Verdade", do autor aqui citado, peguei a comparação onde o próprio coloca a imprensa como veias respiratórias da sociedade e observei várias imagens fortes de enfisemas pulmonares, tumores, desfacelamento dos brônquios, além do clássico pulmão cancerígeno (aquele que tem na foto atrás da carteira de cigarro). Não parei de fumar, mas precisava de uma inspiração. Rui Barbosa é um cara esperançoso, de modo que não destruí suas idéias e nem faria isso, só mostrei como elas se mostram utópicas diante da realidade contemporânea de fato. Jornalismo é antes publicidade e defesa de interesses pra depois poder ser jornalismo. Enfim... voltando ao final da aula, aconteceu que quando Vizeu começou a chamar os nomes, enquanto eu já comemorava por receber presença na cara-de-pau, uma menina - chamada Ana Maria que hoje é editora do site super legal Dois Pontos - levantou o braço.

- Posso fazer uma pergunta, professor?

- Claro, claro - respondeu Vizeu

- Desculpa, mas não é meio hipócrita falar em ética ou na vigência de alguma legislação cordial num curso como Jornalismo?

A discussão que se seguiu, depois da provocação-pergunta, foi sem dúvida um dos momentos altos do meu curso de graduação. Naquele dia, meu repúdio extremo ao jornalismo deixou de ser absoluto por um motivo. Não foi graças a um argumento específico ou uma idéia bonita, mas por assistir alguém como Vizeu - que sabe como ninguém como um sistema de comunicação pode ser cruel - defender a unhas e dentes esse mesmo sistema. Não há como ceder um pouco aos seus argumentos e acreditar um pouco na força deles. Nunca vi minha turma tão envolvida num debate como naquele dia - saímos da sala ainda falando da aula. De algum modo, aquela pergunta colocava as escolhas e a posição de todos em xeque. Um xeque charmoso por sinal - mas sem a precisão do xeque-mate.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Concurso

Para escritores, pretensos, futuros e afins estão abertas as inscrições para o 4 ° prêmio Maximiano Campos de Literatura.

Como eu imagino que nenhuma criança / adolescente lê esse blog só vou repassar o link da categoria de Contos, destinada exclusivamente aos adultos (leia-se adultos aqui como 'quem completou o ensino médio'). As inscrições vão até o dia 30 de junho de 2008.

Dá tempo de tomar mais uma ou dez antes de ir pra casa abrir o baú, revisar, escrever, desistir.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

o mesmo quintal, o mesmo dia (2)

09:00 - Cacto, pedrinhas, matinho e a explosão da manhã.


12:00 - Toalhas multicoloridas estendidas no varal


15:00 - Brincando com a textura do concreto e do orgânico.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Liberação

Carol me mandou o link mais feliz do dia.

"É permitido fumar no Recife em bares e restaurantes abertos, sobretudo nas calçadas. Não, não houve uma liberação nem fumante algum conseguiu liminar na Justiça. Simplesmente a suposta lei que "proibia" isso (e obrigava os fumantes a se levantarem de suas mesas e irem fumar, muitas vezes, do outro lado da rua), na verdade, nunca existiu".

...

"Na prática, vale o que está escrito no decreto número 2.018, de 1º de outubro de 1996, que regulamentou a Lei federal 9.294 de 15 de julho do mesmo ano, que especifica, claramente, o que é um recinto "fechado", no qual é expressamente proibido fumar: "local fechado destinado a permanente utilização simultânea por várias pessoas, tais como casas de espetáculos, bares, restaurantes e estabelecimentos similares. São excluídos do conceito os locais abertos ou ao ar livre, ainda que cercados ou de qualquer forma delimitados em seus contornos".

Vou imprimir essa matéria, colocar na minha bolsa e espalhar a boa nova.

Mais proibições

Agora a era das proibições chega ao futebol: a comissão nacional de arbitragem vai proibir comemorações direcionadas para a torcida adversária e os gestos que tenham algum teor de obscenidade. Tudo isso será decidido pelo juiz, inclusive o que é obsceno e o que não é dependendo da moral de cada um deles. A idéia estúpida é do senhor Sérgio Corrêa da Silva¹, presidente da instituição aqui citada. Odeio essa mania de menosprezar o espírito do jogo, da jogatina, da rivalidade, da tensão, do mau agouro, do desafio e da recompensa. O que seria do Pôquer sem o blefe ou do truco sem a carta lambida enfiada na testa? O que seria do Brasil e Cuba no voley feminino sem um xingamento ou a decisão no tie break? E assim vai...

o_O

Perae... querem tornar o futebol um esporte ainda mais mecânico e frio, mais do que já vem se tornando nos últimos anos. Isso me deixa puto. Pra mim, a comemoração existe é para o cara explodir mesmo e cada um explode de maneira diferente, uns gostam de ir jogar a camisa pra própria torcida, outros preferem dar cambalhota, agradecer a Deus, pular, mandar recado na câmera, outros ainda preferem dançar o créu, beijar na boca do amigo ou mandar os adversários calarem o bico. E nada mais justo, afinal é pros torcedores ficarem mesmo calados (ou derramarem lá suas lágrimas sofridas ha-ha-ha) no momento do gol adversário, em respeito ao cara que levou o jogo ao ápice. Ninguém suporta um 0 X 0. É frustrante.

Afinal não é o gol o grande momento do futebol? A comemoração tem de seguir na mesma linha, até porque mesmo o gol adversário é o que define a mudança de espírito para ambos os times. Superação pra quem ta perdendo e segura o cu pra quem ta ganhando. Acho que os árbitros deviam logo proibir os jogadores de correr pelas laterais do campo, depois proibir de ter possíveis jogadas que terminem em impedimento, probir o pênalti, proibir os atacantes de fazerem gol, proibir as torcidas de entrarem nos estádios, proibir o futebol, proibir todos os jogos, proibir que passem vídeos do Elvis porque o jeito como ele remexe a pélvis é muito obsceno... love me tender, fucking bitch.

Deviam era proibir os árbitros de abrir a boca pra ditar as regras do futebol. Quem tem que fazer as regras são os jogadores ou ex-jogadores ou mesmo a torcida, os árbitros só precisam aplicar o que for decidido. Ou fazer comentários na TV.

O que será que o Arnaldo César Coelho ou o Kilber Alves têm a dizer sobre isso?



1 - Com vocês uma frase do obsceno Sérgio Corrêa da Silva sobre o assunto - na matéria ainda dizia que ele não tinha medo de ser chamado de conservador: - "O 'créu' é completamente incompatível com os moldes da boa educação. Acho até que é algo obsceno. Mas sabemos que há uma permissividade para esse tipo de música na nossa sociedade. Vai caber ao árbitro ter sensibilidade no momento da comemoração do atleta e avaliar se está havendo algum tipo de exagero ou afronta ao sentimento alheio".


A palavra 'obsceno' por si só já traz um discurso conservador implícito. O problema da violência nos estádios realmente não nasce na obscenidade - seja qual for o significado aplicável dessa palavra, menos ainda a partir do estímulo dos jogadores. É querer transferir o holofote do erro para o lado errado. O que é bem típico dos discursos conservadores. Daqui a pouco, o jogador faz o gol e vai ter 6 segundos até voltar pro seu lado do campo para o jogo poder ser reiniciado.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Vício

E quem diria: to viciado no Foucault de 'Arqueologia do Saber' e no Playstation 2 do meu sobrinho. Jogo uma partida, leio um trecho, jogo outra partida, leio outro trecho. Passei o final da tarde / começo da noite nessa rotina. Acho que nunca consegui me concentrar tanto numa leitura difícil como depois de jogar Playstation 2. É uma benção ao funcionamento da mente, quase uma meditação transcendental. Principalmente depois de matar hordas de japoneses loucos, camuflados, com todos os tipos de armas em punho, além de tanques e esconderijos inusitados no meio das florestas tropicais de Guadalcanal e ouvindo gritos indecifráveis em japonês no meio da neblina. Depois é só bala, bombardeio, grito e correria para todos os lados.

hahahaha

Acho que estou passando por uma revolução perceptiva. Preciso ligar pra Maysa e pedir um 'praystation' urgentemente.

Dia da Mentira

Não peguei ninguém com uma super mentira hoje, mas nem me senti tão frustrado. Isso porque quando fui almoçar com um amigo, durante o caminho até a universidade uns 5 ou 6 moleques nos seus 10 / 11 anos estavam deitados na sombra de algumas árvores, curtindo a maior mazela atrás da igreja da Várzea. Uma beleza de sombra, por sinal. Daí passa um motoqueiro e dois ou três deles gritam:

- CAIU TIO. CAIU. CAIU ALI O NEGÓCIO. CAIU ALI Ó.

Eles fazem a carinha de maior preocupação do mundo, carinha de 'oh meu Deus, como somos bons garotos' e o motoqueiro pára olhando pro chão, procurando saber o que finalmente caiu de sua moto. Os moleques continuam:

- MAIS PRA TRÁS TIO. CAIU ALI Ó. CAIU ALI PERTO DO MEIO-FIO.

O motoqueiro olha, olha e percebe que não caiu nada, principalmente porque alguns dos garotos não se aguentam e começam a rir horrores. Entretanto, antes de se tocar realmente, os moleques gritam novamente:

- CAIU O TEU CU, FILHO DA PUTA... CAIU TEU CU. É DIA DA MENTIRA HAHAHAHAHAHA

O motoqueiro mostrou o dedo e foi embora. Os moleques comemoraram.

Eu ri muito e fiquei com uma inveja deles estarem passando o dia ali só tirando onda e mentindo pra quem passasse.

Ai vida boa.

o mesmo telhado, o mesmo dia (01)

08:00 - arame enrolado e fundo desfocado


14:00 - telha inversa e lodo da calha


20:00 - telhado e luz do poste

Pra não dizer que não falei de flores

Um dos meus maiores traumas aconteceu, há uns 8 anos, quando a minha mãe pegou e quebrou em vários pedaços o meu único vinil dos Beatles - chamado 'Beatles Oldies (But Goldies !)' - só porque eu estava o escutando demais. Anos depois, ela deu fim secretamente numa camisa do Calvin, do Bad Wolf e do SuperCrazy só porque não simpatizava com bonecos como estampas. Achava muito infantil. Minha mãe sempre quis me ver em camisa de botão e sempre comprou camisas que eu nunca usei. Poucos meses depois da história do vinil, ela leu várias das poesias, contos, escritos aleatórios, ironias, piadas, ataques sarcásticos que colocava no pretenso caderno de matemática. Óbvio que minha mãe era uma das principais citadas. Levei uma surra e ela nunca percebeu o quanto tinha invadido minha privacidade sem permissão. Parei de escrever em papel e em casa depois desse dia.

Adoro falar de ditadura nesses termos, mamãe.

(e essa não é a mentira de hoje)