quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pizza

Daí dia desses fui no centro comprar um livro e um sapato, tava na caxangá dirigindo de boa, quando não mais que de repente passaram umas seis ambulâncias, uma atrás da outra, na maior velocidade, cortando todo mundo, eu, a titia lesma da frente, o cdu várzea lotado. Ambulância sempre me dá uma sensação não só de que a cidade inexplicavelmente acelerou e tudo precisa ser mais rápido, como gera uma maldita internalização de que o caos reina - só que sem raposa, ejaculação de sangue e clitóris da Charlotte Gainsbourg cortado. ok, daí chego no derby, ali na ponte antes da praça, maior trânsito, aquela vibe 'tem-um-acidente-ali-na-frente-e-todo-mundo-ta-parando-pra-olhar', o pessoal do ônibus lotado se espremendo na janela e a fofoca rolando solta. Nessa hora sempre surgem milhares de teorias estúpidas. Passo o cruzamento, tem caídos uma moto dessas de entrega a domicílio com a caixa estourada e um motoqueiro, nenhuma ambulância por perto, um galo da madrugada de pessoas rodeando o coitado no chão. Minha última imagem foi a dele mexendo a perna. Continuei meu caminho, segui minha vida, só que logo na frente, outro trânsito, fiquei puto, xinguei geral, adoro gastar toda minha energia negativa enquanto estou no volante. Daí quando finalmente chego na causa dos carros lentos, tem uma saveiro branca parada e um carro de polícia ao lado, a maior discussão entre o motorista da saveiro e os policiais e o povo do ônibus se espremendo gritando coisas que não conseguia entender. Foi então que passei a saveiro e me senti a pessoa mais feliz do mundo, não porque o trânsito tava liberado na minha frente, mas porque olhei pra trás e vi a cena do dia: o vidro da saveiro estava todo rachado e sobre um amassado central, tinha uma pizza portuguesa toda espragatada. Merecia muito uma foto. Juro que fiquei pensando no cara que pediu a pizza, cogitei até a possibilidade dele ligar reclamando que passou de vinte minutos e que agora deveria ganhar uma pizza de graça. Olha só o que o consumo faz com a gente. Enfim, entrei na conde da boa vista com a sensação de que era possível entender o mundo olhando o conjunto direitinho: uma moto sozinha não fazia sentido, uma saveiro sozinha com uma pizza no vidro também não. Quer dizer, nem tudo fez sentido, afinal, onde foram parar todas as ambulâncias que passaram por mim na caxangá? Parece nada a ver, mas acho que a resposta pode estar escondida naquele seriado, O Reino, do Lars Von Trier.

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