sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Crise

Descobri só recentemente que, durante a crise econômica, as vendas de O Capital triplicaram, alguns vieram com papo de que a teoria marxista - ou marxiana - naturalmente ganharia fôlego, o que não passa de uma simplória ilusão, pois a leitura do livro, longe de uma erudição, estava sendo tangida por um desespero pragmático, desespero similar ao que sempre guiou os rebeldes de araque durante todo século XX. Para se ter uma ideia, no primeiro semestre do ano passado, quando a crise ainda era pauta certa, participei de um grupo de leitura do Capital conduzido pelo professor Dacier Barros, estava lá, em resumo, porque andava lendo vários autores da tradição, inclusive o próprio Marx, meio por prazer, meio por respeito, meio por filiação filosófico-política, e, dentre os velhos engajados de sempre, tinha uma mulher destoante, alinhada, bolsa chique, sapato de editorial de moda, que tinha perdido muito dinheiro em alguns investimentos fora do país. A iniciativa chegara ao seu conhecimento por recomendação de amigos. Desde então, passei a imaginar executivos de grandes corporações andando com uma pilha de livros vermelhos embaixo dos braços.