sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Uma tragédia americana em Moscou


Mesmo com uma queda pelo gênero, não preciso respirar duas ou três vezes antes de dizer que alguns filmes, especialmente norte-americanos, na sua pretensão de criar uma narrativa de ficção científica com bons efeitos, dosando o ritmo com pitadas de um terror inconsistente, não fazem nada além de revelar o humor involuntário das imagens, de maneira que elementos narrativos como o suspense se veem naturalmente rendidos à comédia. Às vezes é a intenção, às vezes não. No caso de A Hora da Escuridão que apesar de dirigido por Chris Gorak está sendo vendido como uma produção do precocemente visionário (?) Timur Bekmambetov, essa tendência aparece por meio de uma invasão alienígena clean, onde a maior parte da população é dizimada por seres eletromagnéticos invisíveis (ou seja, economia de vilão), corpos são inteiramente desintegrados (ou seja, economia de figurantes), fazendo com que as ruas não tenham uma mancha de sangue (ou seja, economia de efeitos), um resquício de humanidade (economia, economia, economia), apenas poeira e vento. Como inexiste qualquer resquício de tensão, os romances, amizades e as relações são frígidas, as mortes em sequência dos personagens são tomadas como perdas nulas, de modo que é possível até esquecer quem morreu e quem ainda continua vivo, afinal não se firma uma mínima empatia entre os espectadores e o elenco.

O filme traz no papel principal um Emilie Hirsch bem consciente do constrangimento em que está metido,  quase podemos ver um cheque refletido no fundo de seus olhos, pois se não bastasse a negação dramática fingida de intensidade dramática, a história ainda remexe em nada menos que o ranço ocidental dos tempos da Guerra Fria: durante a invasão, acompanhamos os passos de quatro turistas norte-americanos e um sueco sobreviventes na Moscou contemporânea, tudo de ruim que acontece, alguém solta a expressão ah, Moscou, formalizando ainda mais o fetiche de fazer um filme-catástrofe na capital da ex-grande inimiga. A cidade agora está inundada de propagandas por todos os lados, a câmera registra essa presença como um troféu mesmo que sobreviventes secundários russos revelem uma nostalgia pelo conflito, de modo que entre um merchandising e outro, a impressão que fica é a de que o diretor quer afirmar pelo caminho mais frágil e com um delay considerável uma vitória do sonho capitalista e do american way of life. Aliás, nada mais norte-americano bunda-mole que contar uma história em que numa cidade estrangeira de milhões sobrevivam justamente quatro norte-americanos. Por fim, vale apenas ressaltar como cereja do bolo, que, como vem se tornando recorrente na indústria cinematográfica, o 3D serve meramente para ofuscar as cores do filme e encarecer a sessão, utilizando pouquíssimo a interface como proposta estética.

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